17 de abril de 2011

Desistindo do Facebook

Saí do facebook porque perdia tempo demais por lá. Tornou-se um vício: eu acordava cedo e dava uma olhadinha no facebook, pra ver as novidades, verificar se estava tudo bem com todo mundo, quem tinha sido o último bêbado que deixara lá suas pirações. Pouco antes de trabalhar, mesma coisa: uma fuçadinha, porque muita gente não havia acordado tão cedo quanto eu, e poderia ter colocado lá alguma informação importante. O tsunâmi no Japão, o Massacre na Escola de Realengo - tudo isso fiquei sabendo, antes, no facebook, com contribuição do twitter, claro. Antes de dormir, uma entradinha, ver se encontrava algum amigo que está morando longe, bater aquele papo, verificar se havia algum evento bom na noite. Assim, quando não havia nada interessante, eu tinha a desculpa perfeita para clicar nas frases do House, nos trechos da Clarice, cultivar uma fazenda, ganhar respeito nas ruas do Mafia Wars, fuçar na vida alheia, porque ninguém é de ferro. Nem eu: investiguei secreta e ou invejosamente em páginas e fotos alheias, gargalhei, chorei, padeci de vergonha alheia - afinal, no facebook, como antes, no Orkut, tem louco pra tudo. Irritei-me e bloqueei pessoas; briguei com alguns, outros simplesmente abandonei. Encontrei amigos antigos, que não via há anos. Com alguns, reatei velhas empatias, mas também descobri, com outros, por que é que não preserváramos a amizade: não tínhamos nada em comum no passado, não temos nada a dizer no presente, a não ser nos lamentar pelos cerca de trinta e cinco, ou mais anos, que já se foram. Depois foi a fase da autoajuda. Cientes todos de que nossas vidas estão expostas aos amigos que aceitamos, acabamos despejando no facebook as carências, as frases feitas, a sabedoria popular, as intimidades mais escatológicas, as piores músicas e vídeos da história da humanidade (mas que têm significado pra nós), o oco da autoajuda, enfim: tudo que é resto, sobra, aresta, imperfeição. O facebook transformou-se numa espécie de repositório de todas as nossas frustrações, do íntimo que não mostramos - a não ser no facebook, em que tudo é deletável, os rastros podem ser apagados, e a glória é ter mais de dez pessoas curtindo a sua postagem, depois de ela ter recebido mais de vinte comentários. Às vezes eu tinha a impressão de estar lendo um grande livro de autoajuda, forrado de máximas bastante abrangentes - fórmula que, no mais, funciona há bastante tempo nos horóscopos de jornais. Não quero dizer com isso que o facebook é ruim. Lá encontrei bastante gente querida, que eu não via desde o começo do Orkut; lá divulguei diversos eventos, que tiveram público. Também lá despejei minhas besteiras, em noites de porre, regadas a YouTube e Facebook, o que foi bom pra relaxar. Encontrei amigos de madrugada, com quem sonhei, ri, chorei - com alguns deles experimentei a maravilha de superar a tecnologia, por meio do diálogo "que é que estamos fazendo, conversando no computador? bora beber agora!", seguido de sorrisinho. Avisei aos alunos que estava doente, antes mesmo de avisar aos cursinhos; debati política, defendi a candidatura da Dilma, encontrei blogueiros, músicos, escritores, artistas plásticos. Até um namorado encontrei. Mas é hora de parar. Não porque tenha me exposto demais, nem porque queira fazer tipo. Mas porque o facebook me tirou o tempo de escrever neste blog. Porque se eu somar todo o tempo que gasto no facebook, ganho boas horas por semana, pra encontrar as pessoas de verdade. Além disso, sempre é tempo de voltar, se eu quiser, e há ainda outros meios de comunicar-me com as pessoas: a arcaica visitinha, o já superado telefonema no fixo, a ligação madura e rápida no celular, os modernos mensagem e email, o ainda jovem comentário no blog. Pior: nos tempos de autoajuda do facebook, deixei por lá versões de mim das quais não me orgulho. Como tudo é deletável, os rastros puderam ser apagados da tela, mas não de mim. Por isso, deixo aqui estes restos e fragmentos que, por mais que sejam desimportantes, ou ocos de talento, são mais pensados do que os que eu deixava no facebook. Também aqui não me ocupo da vida alheia - besteira que todo mundo faz, mas de que não me orgulho.

Um comentário:

Luferando sempre... disse...

VOLTA LOGO PRINCESA...ESSA BIPOLARIDADE NOS MATARÁ UM DIA!!!