30 de outubro de 2011

'EU TE COMPREENDO"

Eu existi, em certo momento, ao lado de alguém. Não, não digo que vivi. Digo que existi. Porque foi a única vez, em meus muitos anos, que senti o que se pode chamar de completude. Não era um caso de amor, não era amizade, sacanagem ou intelectualidade. Era tudo isso junto, e, ao mesmo tempo, nada disso. Era cumplicidade. Já no primeiro momento aqueles olhos me disseram: “eu te compreendo”. Duvidei. Testei, brinquei, joguei sujo – inúmeras vezes. Mas os olhos sempre repetiam: “te compreendo”. Eu, que até então não entendia nada de olhos cúmplices, cedi. À revelia porque, ansiosamente, queria experimentar. Mora em mim, desde cedo, o pavor das coisas definitivas. E os olhos diziam: “Vá”. Fui, tantas vezes me foram necessárias. Até que o verbo – gradual e naturalmente – foi substituído. “Vamos”. E assim, sem o alarde e a pirotecnia de um ‘grande amor’, existíamos em silêncio, secretamente, em nosso infinito particular. Até o dia em que me disse: “agora preciso ir”. Estava cansado, muito cansado. E seus olhos pediam compreensão. Contavam com a real cumplicidade de todos os anos e experiências anteriores. Hesitei, perdi a segurança, a completude, o chão. Mas, meus olhos disseram: “vá”. Como poderia negar? Ou não compreender? E foi. Desde então, incompletude –. E eu procuro, continuo a procurar. Porque você sempre me dizia que as pessoas ao nosso redor contêm multidões. Em algumas encontrei amor, em outras a amizade, sacanagem e até àquela intelectualidade humilde tão necessária. Mas jamais encontrei todas elas em uma só. Por vezes, cheguei perto. É verdade. Mas, falta sempre a cumplicidade simples e livre que mora na quintessência do olhar. Você nunca precisou dizer ‘eu te amo’. E, outro dia, encontrei uma menininha que me olhava profunda e seriamente. Sorri. Ela não sorriu. Fotografei. Ela não desviou o olhar. Brinquei, e ela continuou fixa. Por um instante, depois de tantos anos, pareciam seus olhos me dizendo: “eu te compreendo”. Quase respondi: “eu também, ainda, te compreendo”. E procuro. Toda menina precisa desse olhar. Não obstante, sem pressa. Sigo acreditando que as pessoas contêm multidões. .

Um comentário:

Unknown disse...

diria que foi uma aventura boa enquanto durou amiga,nem tudo é certo,nem tudo é verdadeiro a nao ser o momento,ou os momentos..esses sao o que nos fazem recordar o bom e mau..o feliz e o inconsolavel..mas a vida segue..e quem sabe um dia a vida mude e para mehor..bjss elzinha
dá sempre gosto ler-te amiga
feliz terça feira amiga
bjss de espanha