Perder doi mesmo. Não acredito em poses e posturas. Acredito em afetos. A dor incomoda. Agora sei que não preciso realizar nada espetacular.O essencial é que estou vivendo sem imposições:que a vida seja desdobramento e abertura. A vida vivida com gosto e dor. Em sua plenitude. Sem algemas...
28 de março de 2011
Eu acordei e fui correndo olhar o pote de danoninho, mas o feijão ainda era só uma semente de feijão e o algodão era só um algodão umidecido, com feijão dentro. Nada demais. Foi tudo mentira da tia da escola, nunca nasceria um pé de feijão dali, eu já devia saber. E paciência para esperar as coisas acontecerem – e isso eu também já devia saber – nunca seria o meu forte.
Quando eu já estava quase convencida de ter sido enganada, brotou a primeira folha do meu pé de feijão. Eu era encantamento puro, vibrava a cada folhinha nova que nascia e me surpreendia a cada dia com o tamanho que a planta alcançava ligeiramente.
Fores me causavam o mesmo encanto. Já cheguei a ficar horas seguidas olhando para uma roseira na tentativa de testemunhar um botão desabrochando, e como nunca consegui, criei a teoria de que as flores só se abrem quando não há ninguém olhando, funcionava como um ritual sagrado na minha cabeça, eu mal sabia que o desabrochar de uma flor era um ato tão lento que minha impaciência e ansiedade jamais me permitiriam partilhar do rito. Ou, pelo menos, não permitiram até hoje.
Mas, ao contrário do botão que eu nunca vi virar rosa, houveram outras coisas que demoraram bem mais tempo para desabrocharem e, mesmo assim, eu vi acontecer. Uma delas fui eu. Nessa minha eterna busca por aprendizado, conhecimento e auto-conhecimento, eu me vi outra. Tão nova e, simultaneamente, mais madura. Toda ambígua, “as usual”.
Meu pé de feijão não virou uma árvore gigantesca de um dia pro outro como na fábula do João e o pé de feijão, mas cresceu a ponto de não caber mais no pote de danoninho, deu dois ou três grãos de feijão, depois secou e morreu.
As flores ainda me perturbam ao murchar, sinto um misto de lamúria com inconformismo, exatamente como – imaturamente – ainda encaro a morte, mesmo tendo a consciência plena de que os ciclos podem ser longos ou curtos, mas acabam sempre da mesma forma, seja de maneira metafórica ou física.
Pelo menos eu não parei de plantar feijões. A diferença é que agora eu não mexo mais no potinho de danoninho toda hora pra ver se vingou, eu só rego, rego e rego. E toda vez que me deparo com ele, me encanto do mesmo jeito, embora eu me abdique involuntariamente da sensibilidade da percepção algumas vezes. Mas essa é outra que segue amadurecendo, ao lado do meu pé de feijão encantado…
Qualquer dia desses eu subo nele e descubro o que mais há lá em cima.
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