9 de março de 2011

SE PUDER SEM MEDO

Deixa em cima desta mesa a foto que eu gostava Pr'eu pensar que o teu sorriso envelheceu comigo Deixa eu ter a tua mão mais uma vez na minha Pra que eu fotografe assim meu verdadeiro abrigo Deixa a luz do quarto acesa a porta entreaberta O lençol amarrotado mesmo que vazio Deixa a toalha na mesa e a comida pronta Só na minha voz não mexa eu mesmo silencio Deixa o coração falar o que eu calei um dia Deixa a casa sem barulho achando que ainda é cedo Deixa o nosso amor morrer sem graça e sem poesia Deixa tudo como está e se puder, sem medo Deixa tudo que lembrar eu finjo que esqueço Deixa e quando não voltar eu finjo que não importa Deixa eu ver se me recordo uma frase de efeito Pra dizer te vendo ir fechando atrás da porta Deixa o que não for urgente que eu ainda preciso Deixa o meu olhar doente pousado na mesa Deixa ali teu endereço qualquer coisa aviso Deixa o que fingiu levar mas deixou de surpresa Deixa eu chorar como nunca fui capaz contigo Deixa eu enfrentar a insônia como gente grande Deixa ao menos uma vez eu fingir que consigo Se o adeus demora a dor no coração se expande Deixa o disco na vitrola pr'eu pensar que é festa Deixa a gaveta trancada pr'eu não ver tua ausência Deixa a minha insanidade é tudo que me resta Deixa eu por à prova toda minha resistência Deixa eu confessar meu medo do claro e do escuro Deixa eu contar que era farsa minha voz tranqüila Deixa pendurada a calça de brim desbotado Que como esse nosso amor ao menor vento oscila Deixa eu sonhar que você não tem nenhuma pressa Deixa um último recado na casa vizinha Deixa de sofisma e vamos ao que interessa Deixa a dor que eu lhe causei agora é toda minha Deixa tudo que eu não disse mas você sabia Deixa o que você calou e eu tanto precisava Deixa o que era inexistente e eu pensei que havia Deixa tudo o que eu pedia mas pensei que dava Oswaldo Montenegro

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